Uma das implicações do diagnostico do mal de Alzheimer é a decisão sobre a capacidade para realizar atividades mais complexas do dia-a-dia.
O DIAGNÓSTICO É DOENÇA DE ALZHEIMER, É POSSIVEL CONTINUAR DIRIGINDO?
A resposta para esta pergunta pode parecer simples- o diagnóstico de DA significa o prejuízo a capacidades essenciais para dirigir de modo seguro, portanto essa atividade deve ser suspensa. Infelizmente a decisão não é tão simples. Em geral, as pessoas diminuem o tempo de direção e param de dirigir com o avançar da idade, mas, para muitos dirigir faz partes da manutenção da independência e é essencial para a realização de muitas atividades. Sobre a decisão de parar de dirigir, dois aspectos devem ser considerados: se uma pessoa não tem condições para dirigir, mas continua a fazê-lo, sua vida e de outras pessoas pode ser colocada em risco; se uma pessoa tem condições para dirigir, mas é impedida, sua independência é injustamente prejudicada. Relatos de maior taxa de acidentes automobilísticos entre motoristas com doença de Alzheimer levaram a sugestão de que o diagnostico da doença deveria implicar a suspensão da licença para dirigir. Na realidade, a comparação entre pessoas da mesma idade sem a DA não mostrou que esse diagnóstico aumentasse a probabilidade de acidentes, pelo menos na fase inicial da doença. A DA pode prejudicar a eficiência do dirigir por diferentes mecanismos: pela desorientação espacial; múltiplos déficits cognitivos, comprometendo a atenção, habilidade viso-espacial, processo de tomada de decisões podem dificultar a percepção de situações especificas no transito e a resposta a elas em tempo adequado. Este aspecto do dirigir que apresenta riscos. Não há teste de avaliação mental que tenha uma boa correlação com a capacidade de dirigir, por isso a decisão sobre dirigir ou não deve ser feita de outro modo. Dirigir supõe aspectos técnicos, como a mudança de marcha e a precisão ao tirar o carro da garagem e estacionar. Supõe também a adesão as normas de transito, como respeito aos sinais luminosos e cuidado ao entrar em uma via preferencial. Adicionalmente existem situações que exigem ainda mais, como decidir se uma ultrapassagem é segura ou não. Assim, não existe no Brasil legislação especifica para direção e doença de Alzheimer, e a decisão recai sobre a família que, para isso, pode pedir auxilio do medico e também de psicólogos. A observação da maneira como o carro é usado pode ser útil, a família pode prestar atenção se o portador da DA demora muito para mudar a marcha, entra na contramão, é desatento ao entrar em via preferencial, tem dificuldades em manobrar.
É POSSÍVEL CONTINUAR ADMINISTRANDO O PRÓPRIO DINHEIRO?
O controle das finanças não exige apenas memória, mas também capacidade para avaliar alternativas, tomar decisões e prever suas conseqüências. Essas capacidades, que em conjunto recebem o nome de “função executiva”, estão afetadas precocemente na doença de Alzheimer, e muitas vezes é necessário decidir se essa pessoa ( diagnosticada com a doença) pode continuar administrando o próprio dinheiro. Está é uma área difícil de abordar, porque a tentativa de ajuda pode ser vista como intromissão ou ainda como tentativa de apossar-se de recursos financeiros. A menos que haja erros gritantes, falhas nessa área só são percebidas com observação atenta. Determinar a competência para decisões financeiras é importante, pois dificilmente é possível uma anulação de alguma ação anterior à determinação legal de incapacidade. Assim, uma vez que se decida que a supervisão nas finanças é necessária, deve ser escolhido um supervisor. Visto que finanças é um assunto delicado, talvez a solução seja a declaração legal de incapacidade para gerir o próprio dinheiro e tomar decisões a esse respeito.
EXISTE TRATAMENTO?
O tratamento da doença de Alzheimer tem dois aspectos: os medicamentosos e os não medicamentosos, ambos igualmente importantes. Na DA ocorre uma perda de neurônios, mas isso não ocorre da mesma maneira em todo o cérebro- no inicio da doença são perdidos principalmente neurônios que usam como mensageiro químico um neurotransmissor chamado Acetil-colina, tal perda no inicio, ocorrendo principalmente nas áreas da memória e nas responsáveis por alguns aspectos do comportamento, o que explica algumas das primeiras alterações verificadas nessa doença. A perda de neurônios que produzem acetil-colina faz com que menor quantidade esteja disponível. As tentativas de aumentar a produção de acetil-colina administrando lecitina não apresentam bom efeito. Já os medicamentos que inibem a degradação, aumentando a quantidade de acetil-colina disponível, mostraram melhor resultado. Atualmente estão disponíveis três medicamentos com esta ação: donepezil, galantamina e rivastigmina. Embora tenham ação semelhante, essas drogas apresentam pequenas diferenças. Desse modo, o fato de uma pessoa não responde a uma delas não significa que ela não possa responder a outra.
COMO POSSO AJUDAR NO TRATAMENTO?
O tratamento de Alzheimer não envolve apenas medicação. Enquanto algumas habilidades esta prejudicadas pela doença, outras estão conservadas. É possível usar capacidades preservadas para suprir em parte as que estão prejudicadas. Pode se útil a ajuda de psicólogos ou terapeutas ocupacionais para fazer isso. É importante também que o profissional tenha experiência na reabilitação dessa doença, que é progressiva. Em primeiro lugar, não se deve tratar alguém na fase inicial do Alzheimer como um inválido, pois o seu objetivo é manter a vida o mais normal possível e, dentro do que estiver em seu alcance, preservar a independência. Isso gera aspectos positivos: contribui para manter a dignidade e auto-estima do paciente. É necessário estar atento porque algumas coisas podem estar fora do alcance de ajuda e, neste caso, a insistência só causará frustração ou uma crise de choro ou até uma explosão de raiva que pessoas com a DA apresentam quando se sentem pressionadas a fazer algo que não conseguem. Geralmente essas reações catastróficas são precedidas de crescente reclamação sobre a tarefa ou inquietude. O segundo ponto importante é a escolha das atividades, que devem ser agradáveis e ter algum significado como exercitar os interesses prévios; mas também atividades que nunca foram praticadas anteriormente podem ter resultados bastante satisfatórios. Dentro da atividade escolhida, o nível de complexidade deve ser adequado porque pode levar atividades infantilizadas, percebidas como tal pelo possuidor da doença de Alzheimer, que com toda razão pode deprimir-se ou irritar-se. Muitas pessoas na fase inicial da doença ainda trabalham e se opõem a parar, no entanto, para algumas atividades que exigem muito esforço da memória, isso não é possível.
TENHO COMO EVITAR A DOENÇA DE ALZHEIMER?
Como não sabemos o que desencadeia a doença de Alzheimer, não existe um método para realmente evitar a doença, mas existem muitas atitudes que podem adiar seu inicio. A DA ataca inicialmente as sinapses, isto é, os pontos de contato que permitem que os neurônios se comuniquem entre si e que novas memórias sejam formadas. Pessoas com atividade intelectual intensa estabelecem mais sinapses e, portanto, formam uma espécie de reserva. Por causa dessas sinapses”extras” estas pessoas precisam perder mais volume cerebral antes que apareçam os primeiros sintomas da doença. É por essa razão que pessoas altamente intelectualizadas tendem a ter Alzheimer mais tarde cujos sintomas progridem também mais devagar. Outra maneira de adiar a doença é poupar o cérebro de danos por outras razoes. Isso pode ser feito mantendo a circulação cerebral na melhor condição possível, o que significa tratar a hipertensão arterial, diabetes e alterações do colesterol. Neste mesmo sentido, a atividade física regular também ajuda. Outras atitudes que podem auxiliar incluem o tratamento da depressão e evitar o abuso de álcool. Logo, manter um estilo de vida saudável pode fazer com que a evolução da doença de Alzheimer seja mais favorável.
Retirado de: Manual do cuidador doença de Alzheimer na fase leve, de Dr. Paulo H.F. Bertolucci.
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